quarta-feira, novembro 7

Mera Representação, Encenação Radical Ou Pensamento Retrógrado?



Desde já deixem-me desejar a este blog um grande sucesso. Permitam-me que o faça só agora uma vez que é a primeira entrada minha que aqui ponho.

Bom, já que na passada semana estivemos numa de analisar temas arrojados pela ligação religiosa à música, proponho que nos debrucemos sobre o que La Féria utilizou aquando da tomada de posse da sua empresa de produções artísticas – Bastidores - para relançar o histórico teatro Rivoli: o musical “Jesus Cristo Superstar”.

A pergunta que ponho é muito simples: até que ponto o povo cristão consegue aceitar o que neste musical podemos ver?
Este é um trabalho no ramo do teatro musical da autoria de Lloyd Webber, da década de 70. De forma a fazer arte, Webber conta-nos a história Jesus Cristo de uma forma ousada, um pouco diferente daquela que descrevem na nossa catequese.

Tudo bem, estamos a assistir a uma forma de arte como é o teatro. Mas, para os mais distraídos, caso confundam realidade com representação, é possível apanhar alguns sustos com esta produção.

“Distraí-me” apenas um bocadinho e eis que me deparei com pormenores um pouco controversos. Exceptuando o facto de haver uma cruz toda bonita para um final tão trágico, figuras muito bem vestidas para a época e para a classe representada (meras interpretações), uma aparência cuidada em todo o que não nos podemos esquecer que é um espectáculo que pretende vender, há a parte da música e a forma como ela conta a história do Messias.

A mim, faz-me confusão que alguém "grite" o nome de Jesus Cristo, embora estejamos a falar de teatro musical, como alguém que grita o nome de um DJ numa festa altamente “freak”.
A parte musical está justificada, eu creio. A obra tem um estilo, foi criada segundo as ideias de um autor da abordagem do nome de Cristo. Quem quer, compra, quem não quer, não compra. Mas há algo nesta abordagem que não me cai muito bem. Volto a referir, da década de 70, vejo já uma grande evolução. Estarei a ficar antiquado? A envelhecer para anos passados!?

Lanço-nos o tema:
Aceitação da evolução de manifestações cristãs nos tempos de hoje.

Se tiverem oportunidade, assistam a uma gravação do musical, quando disponível. Desconheço a já existência de alguma.

Um bem haja a todos nós!

3 comentários:

ricardo jorge disse...

Eu sou pela evolução!

Desde que não sejam postos em causas os valores da nossa fé, porque não evoluir.

Jesus foi um revolucionário, e nunca um conservador. Devemos ter orgulho e respeito pela nossa história, mas nunca nos devemos perder nela, o caminho é em frente!

A igreja é feita de homens, logo tem que se adaptar a eles e estes aos seus valores.

Jesus é verdadeiramente um Super Star, e se vivesse entre nós na forma carnal haveria de ter um blog, e um megafone para fazer frente aos falsos valores dos falsos conservadores, e para protestar contra os capitalistas que detêm o poder do mundo.

Viva Jesus!

Pedro Miguel Pereira disse...

Pois eu acho que tudo deve ser posto em causa. Não deveria haver nunca uma "pedra" por levantar em assuntos que definem, como este, a nossa própria orientação existêncial. A mim sempre me pareceu estranho o modo como algumas pessoas acreditam nas coisas sem por elas se interessarem minimamente. A fé deve ser questionada. Devemos pormo-nos à prova, com a certeza de que, se superarmos essa prova, nos sentiremos muito mais enriquecidos...ou então, como não podia deixar de ser, mais pobres.

Concebo a vida como uma espécie de jogo. Nesse jogo podemos sempre apostar o mínimo e, em caso de derrota, perder apenas o mínimo. ou então podemos apostar o máximo possível, ganhando, desse modo, muito mais. Viver é um risco. Só somos autênticos na medida em que abraçamos e aceitamos esse risco.

Relativamente à obra em questão, algumas considerações.
Em 1ºlugar é um evento comercial, feito com muito dinheiro com o intuito de ganhar ainda mais dinheiro. O teatro surgiu na Grécia antiga e tinha uma função essencialmente pedagógica. Todos tinham de ir ao teatro porque ele era uma forma de prevenção dos males da sociedade.
Hoje esta forma de ver o teatro perdeu-se.
Não fui ver a peça basicamente por causa do intrinsecom capitalismo que a rodeia. Para mim é usar o nome de Cristo para fazer dinheiro, independentemente do valor sentimental e artístico que a peça tenha.

Quanto ao facto de o nome de Cristo ser gritado ao modo dos Djs, não vejo qualquer problema. Aliás, julgo mesmo que ele deveria esse grito deveria rasgar as fronteiras do espectáculo e entrar pelos ouvidos de todos aqueles que O querem num espaço infímo e fechado (como são, por vezes, as próprias igrejas). Ainda não consegui perceber como é que uma força revolucionária e evolucionista como Cristo deu lugar a posições tão retrógadas, marcadas pelo signo do medo (essa espada sempre suspensa sobre os crentes que é o pecado). Se a solução estiver em gritar JESUS com toda a força, contém com a minha voz.

MVeiga disse...

É claro que eu não poria qualquer tipo de hesitação em gritar o nome de Deus com toda a pujança possível. Aliás, foi assim que me ensinaram. A minha religião diz-me isso.

Só desgosto do estilo musical que apoia a “história”, o “texto”. Eu conservo o que são as origens da arte. Do que é a sua expressão como interpretação do que surge. Admito evolução, mas, como “aspirante” de músico, não me “cai bem”, como já disse, a forma como, pondo-me no lugar de alguém que precisa de Deus, que o faça num estilo musical como este. Não ponho, nem posso pôr, de todo, em dúvida se será ou não a mais ou a menos correcta forma de falar com Jesus a que assistimos em Jesus Cristo Superstar. Apenas eu não o faria assim e só gostava de saber de todos quem o faria da mesma forma. Se por vergonha, porque rezar em silêncio é muito mais discreto e, como vivemos numa sociedade de olhos abertos, cair de mau aspecto aos olhos dos outros seria reprovável. Se bem que muitas vezes penso no que uma vez me disseram: “Cantar é rezar duas vezes”. Neste caso digo que as duas vezes estão nas palavras que damos a Deus e estão na capacidade de lhe darmos um pouco do que aos poucos ele nos foi ensinando a fazer: arte. Estamos a falar de uma das mais antigas formas de arte, a de produzir sons. De uma vez, estamos a produzir sons, de outra, estamos a fazê-los tornarem-se agradáveis, aos nossos ouvidos, e a tentar fazer com que sejam também aos dos outros.

É sabido que em Portugal não temos tanta facilidade em interpretar uma letra musical de uma língua estrangeira como alguém que entende a língua em questão. E o que é facto também (e depois, lá aparecem aqueles prémios divertidos para “a pior letra de música do ano”! Faz sentido!) Quando a música é traduzida ou temos curiosidade em saber o que afinal diz aquele cantor, aquele tema, há a desilusão.
Toda esta questão está comparada às várias formas que a história desenvolveu para adorar um “mesmo” Deus. Se adorar a Deus e querer o Seu Filho fosse expressar-me musicalmente, não o faria por músicas punk, ou hard rock, ou passava um salmo para uma malha de hip hop. Musicalmente, são coisas sem sentido e, a não ser que me expliquem o porquê do conjunto (e admito que não tenha pesquisado o suficiente para ter percebido, no mínimo, aquele grito), é de senso geral que há estilos mais apropriados

Romper pode ser interessante. Na arte, e em tudo, é importante evoluir, para isso é preciso romper. Mas, como disse antes, desde que o que vem de trás não desapareça. Se a tendência é para evoluir, e não estando agora a limitar-me falar nos últimos anos, como diria, de 70 para cá, se tudo isto ajudar a acabar com alguma da hipocrisia que se vive, para mim, é óptimo.

Mas a mim não me preocupa qualquer que seja a tendência que a religião “moderna”, permitam-me que divida uma história una, tome. Os meus actos religiosos regem-se por aquilo que eu trago e levo dela. Dou à igreja tudo aquilo que entendo que ela precisa de mim. Mas sublinho, demasiada rigidez e a inexistência de umas cabeças que andem à frente de outras não são possíveis num qualquer grupo vivo, como activo, e provocariam a estagnação e a perda de interesse desse grupo.

Como manifestação religiosa, gostava ainda de continuar com o tema das formas de manifestação cristã. Gostava ainda de perceber quais os motivos de justificação que algumas pessoas dão aos seus actos religiosos (manifestação de amor a Deus: a sua necessidade). Não os verdadeiros motivos, os particulares e que a cada um dizem respeito, mas o que vêm essas pessoas no acto como contributo: para elas próprias, para Deus e para a igreja.

Bem haja!