quarta-feira, novembro 14

Guerra Santa. Ou não.



“Não matarás.” – disse Deus.

“Mata um homem por dinheiro e és um criminoso; mata mil homens por um ideal e és um génio” – disse alguém.

Disse Hegel (1770-1831) que a guerra ajuda-nos a perceber que as coisas triviais e a vida das pessoas valem pouco. “Através da guerra preserva-se a saúde dos povos.”
Sentem-se sãos? Eu não.
Então a guerra é má. Ou será que é boa? Ou será ambas as coisas? Poderá sê-lo?
O mal é o oposto do bem? Ou são simplesmente duas faces da mesma moeda? Se Deus é bom, porque existe mal?
“O bem e o mal são inseparáveis; um não tem sentido sem o outro. O bem só tem valor se o mal for uma opção, se nos dedicamos ao bem porque realmente o desejamos e não porque não temos alternativa.” Gottfried Leibniz (1646-1716)
Assim, como pode uma guerra ser santa? Ser santo é mau? Ou a guerra é boa?
Porque escolheu Deus sacrificar os inocentes mortos pela guerra? Foram em vão todas aquelas vidas? Eles poderiam ter mudado o mundo se não tivessem morrido. Mas morreram. Estavam condenados a morrer.

“Estamos condenados a ser livres” – disse Sartre.

Estamos? – digo eu.

2 comentários:

Pedro Miguel Pereira disse...

Hegel afirma que a realidade é dialéctica. Tem três termos. Tese, antítese, síntese. POr aí se podem explicar os opostos, as contradições. No entanto, na síntese tudo está reconciliado.
O que quero dizer com tudo isto é que sem o mal não há bem, sem a injustiça não há justiça, sem o homem não há Deus. Tudo precisa de ser negado para poder ser afirmado.

A guerra é, inegávelmente, uma "fonte" de progresso. É parte do humano caminho em rumo à perfeição. Sem conflicto nada mais resta ao homem do que uma existência sem sentido. POr isso estarmos condenados a ser livres. Sartre afasta Deus do homem. Estamos entregues a nós mesmos numa existência que não escolhemos e na qual temos, inexoravelmente, de optar entre valores. Não escolher, como dizia já B. Pascal, é já fazer uma escolha.

Por isso é impossível o homem não ser livre.

Colocar Deus na existência humana acaba por, de facto, ter um efeito alienante. A crença num mundo outro que não este, a crença num reino de eterna justiça, pode levar-nos a adiar a mudança, a busca de perfeição neste momento. Sartre, afastando Deus, obriga ao "engagement", obriga ao compromisso. É como há tempos dizia o Ricardo, Deus só divide! Todas as religiões procuram mostrar que são a única correcta. Nunca niguém ouvirá o papa dizer que a religião mais "próxima da correcta ideia de Deus" é a muçulmana, por muitas provas que alguém disso possa dar.
Assim sendo, escolhendo acreditar (porque na religião intervém sobretudo e inegavelmente a vontade e muito pouco a razão, escolhendo acreditar o Homem deveria optar pela religião que mais liberdade confere às suas acções. Se Deus servir de justificação para os nossos actos, todas as guerrras se sucederão com um profundo sentido de vazio.

Não há guerras santas. Todas são uma barbarie. No entanto elas não deixam de desvelar o verdadeiro carácter humano: o homem é um ser livre, mas que recusa sempre admitir que está errado.

ricardo jorge disse...

Toda esta temática leva-me a ponderar em dois tempos.

Primeiro, a necessidade de guerra, ou do mal. Segundo a religião Hindu,o Deus criador Brahma, criou duas divindades que regem o universo, Vishnu e Shiva. O primeiro é a criação, a evolução, a inovação, e o segundo representa a destruição, o caos. No ocidente criou-se uma imagem de Shiva, como um Deus mau e castigador, como prova tema o filme Tom Raider, o qual finaliza com um combate titânico entre Lara e Shiva. Na cultura hindu, Shiva significa a destruição, como algo positivo para o reaparecimento da nova criação. Um incêndio é positivo quando visto como ocorrência natural que permite a regeneração de habitat e da mítica evolução das espécies. Passando para o catolicismo é destruir o pecado na confissão para de novo seguirmos o caminho para Jesus. Com isto quero dizer que a destruição do mal é necessária, o problema é que o homem apenas vê a guerra como seu único meio da atingir. Shiva ajuda-nos a terminar com o mal, não incita a guerrilhar. O homem para se desenvolver necessita de crise e de caos, mas para a ultrapassar nem sempre necessita da guerra. A guerra é utilizada muitas das vezes por interesses que nada têm haver com a necessidade humana de vencer o mal.

Por fim, vem de novo a temática do dualismo. Bem - mal, justiça injustiça. Não estou a contrariar o Pedro nem a Dalila, compreendo perfeitamente o que dizem e concordo, mas voltar a relembrar o grave problema que é transportar este pensamento correcto do dualismo, para situações em que não é aplicável. Nem sempre existem bons e maus, e nem sempre o que aceitamos como bom é realmente bom. O exemplo clássico sãos os Western Americanos, nos quais os pobres dos índios que foram aniquilados, são vistos e retratados como verdadeiros facínoras de fina pele cobrindo as partes intimas e de flechas, contra os 'vulneráveis' e corajosos americanos de roupinhas 'pobrezinhas' e com 'pequenas' espingardas. No fim os bonzinhos venciam... que estranho...
Ver a preto e branco, ou bem-me-quer mal-me-quer, nem sempre é verdade, para isso vejamos a questão palestiniana, nem Israel nem a Palestina são os bons ou os maus, têm ambos razões inegáveis.

Para acabar mesmo, a guerra também pode ser vista como o expoente máximo da necessidade de competir que o homem sente todos os dias, a outra via é o desporto, que apesar de tudo é mais salutar e recomendável...